ATA DA TRIGÉSIMA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 31.08.1989.

 


Aos trinta e um dias do mês de agosto de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Trigésima Terceira Sessão Solene da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Paulo Otacílio de Souza, o Paulo Lumumba. Às dezessete horas e quarenta e cinco minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou aos Líderes de Bancada que conduzissem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Prof. Olívio Dutra, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Sr. Paulo Otacílio de Souza, Homenageado; Sra. Idalina Lima de Souza, esposa do Homenageado; e Ver. Lauro Hagemann, 1º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre. A seguir, o Sr. Presidente saudou os presentes, fez pronunciamento alusivo à solenidade, destacando as qualidades do Homenageado tanto como profissional de futebol como Vereador desta Casa Legislativa; e registrou a presença, em Plenário, do ex-Vereador João Severiano. Em prosseguimento, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Edi Morelli, em nome da Bancada do PTB, discorreu sobre o sucesso do profissional na área do futebol, da importância e relevância de sua atuação para a comunidade deste Estado, e afirmou que esta homenagem é justa e meritória. O Ver. Lauro Hagemann, em nome das Bancadas do PCB, PT e PSB, ressaltou as características humanas do Homenageado, asseverando ser tal homenagem o reconhecimento da comunidade desta Cidade. O Ver. João Dib, em nome da Bancada do PDS, saudou o novo Cidadão de Porto Alegre, destacou a simplicidade, tranqüilidade e a competência do profissional. Afirmou que a Cidade de Porto Alegre aprendeu a respeitar o desportista e o ex-Vereador desta Casa pela responsabilidade que sempre norteou sua atuação. E o Ver. Isaac Ainhorn, como autor da proposição, e em nome das Bancadas PDT, PMDB, PFL e PL, destacando a cidadania conquistada pelo Homenageado, ressaltou sua trajetória como jogador de futebol, ex-Vereador desta Casa, e professor de educação física. Afirmou que o mentor da proposição apresentada por S. Exa. foi o ex-Vereador João Severiano, e salientou as razões que o levaram a tal, discorrendo sobre as questões das raças perseguidas e oprimidas – judeus e negros. Em continuidade, o Sr. Presidente convidou os presentes a, de pé, assistirem à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Paulo Otacílio de Souza, o Paulo Lumumba, concedido através do Projeto de Resolução nº 23/88 (Proc. 0523/88), de autoria do Ver. Isaac Ainhorn, e de Medalha conferida por este Legislativo Municipal, respectivamente, pelo Sr. Prefeito Municipal e pelo Ver. Isaac Ainhorn. Após, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Sr. Paulo Otacílio de Souza, que agradeceu a homenagem recebida e discorreu sobre aspectos de sua vida profissional, tanto no futebol como na ex-Vereança. Nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente encerrou os trabalhos às dezoito horas e quarenta e seis minutos, convidando as autoridades e personalidades presente a passarem à Sala da Presidência, e convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga, e secretariados pelo Ver. Lauro Hagemann. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Declaro abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Paulo Otacílio de Souza, Paulo Lumumba. Esta homenagem foi requerida pelo Ver. Isaac Ainhorn e aprovada por unanimidade pelos membros desta Casa. Solicitamos aos Senhores Líderes de Bancada que introduzam ao Plenário as personalidades e autoridades convidadas.

Farão parte da Mesa o Dr. Olívio Dutra, Prefeito Municipal de Porto Alegre, nosso querido homenageado Paulo Otacílio de Souza, sua esposa, Srª Idalina Lima de Souza, e o nosso companheiro Ver. Lauro Hagemann. Registramos ainda com prazer a presença do ex-Vereador João Severiano.

O nosso homenageado de hoje com o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre é um sergipano que veio para o Rio Grande do Sul há quase trinta anos e aqui ficou, encantando torcidas de futebol, representando o povo de Porto Alegre nesta Casa e, acima de tudo, fazendo amigos. Neste Legislativo esteve em 1959 até 1962. Muita coisa poderia dizer do nosso querido Paulo, sempre ao lado de sua esposa, e aqui estão seus dois filhos, simpáticos como o pai e a mãe. Eu relembrei rapidamente - com o Paulo me dei conta de que já se passaram vinte e cinco anos e na época eu tinha vinte e dois anos - o gol que o Paulo fez em Santos e aí disse para ele: “Puxa, um gol sem ângulo, um bate papo preliminar, não é?”. E o Paulo me respondeu: “Faz vinte e cinco anos que isso aconteceu”. Deixe-me fazer as contas, eu estou com quarenta e sete anos menos vinte e cinco anos, eu tinha vinte e dois anos. Boa lembrança. E tenho saudades daquele tempo. Então, é com muita honra que o recebemos nesta Casa. E passo de imediato a palavra aos Vereadores que falarão pelas suas Bancadas e pela Casa, pela nossa Cidade.

Com a palavra, o Ver. Edi Morelli, pela Bancada do PTB.

 

O SR. EDI MORELLI: Exmº Sr. Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. Olívio Dutra, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Sr. Paulo Otacílio de Souza, nosso Homenageado; Srª Idalina de Lima Souza, esposa do nosso Homenageado; Ver. Lauro Hagemann, 1º Secretário desta Casa, minhas senhoras e meus senhores. (Lê.)

“Há homens que vão, vêem e vencem. O jovem Paulo Otacílio de Souza, veio, viu e venceu. Mais do que vencer, Lumumba deixou seu Pernambuco e radicou-se no Rio Grande do Sul. Tornou-se, assim, de coração e alma, um gaúcho que foi acolhido fraternalmente por todos nós.

Aqui no Rio Grande, quando comemorávamos o centenário da Revolução Farroupilha, em 1935, nascia, na cidade pernambucana de Riachuelo, o nosso Paulo Lumumba. E sobre Lumumba há muito que falar; mas serei breve, pois outros ocuparão esta tribuna e dela farão um trampolim para alcançar as glórias desse atleta, tornando a todos sabedores da carreira brilhante e exitosa deste jogador que já escreveu seu nome nas páginas do esporte nacional.

Foi em 1948 que Paulo Lumumba iniciou sua carreira como jogador, no Riachuelo Futebol Clube. Dois anos depois, em 1950, ele ingressava no juvenil do Confiança, em Aracajú, onde passou em seguida para titular de sua posição, de lateral esquerdo. Nesse clube, Lumumba ficou até 1953. Mais tarde, Lumumba foi contratado e passou a jogar pelo Esporte Recife.

Em 1959, saiu do Nordeste e foi para São Paulo jogar no Comercial, onde ficou até o início da década de 1960. Seu futebol o projetou mais tarde para a grande equipe do São Paulo Futebol Clube, mas, pela ironia do destino, quando jogava uma partida contra uma equipe carioca no Rio de Janeiro, em 1960, Paulo Lumumba, através de um telegrama, recebeu a notícia que jamais desejaria saber: em sua terra natal, sua mãe, Dona Erondina, tinha falecido. Paulo viajou rapidamente, mas não conseguiu chegar a tempo para o sepultamento da mulher que lhe deu a vida.”

Foi também em São Paulo que recebeu o apelido de Lumumba, lembra por quem, Paulo?

 

O SR. PAULO OTACÍLIO DE SOUZA: Por sua majestade, o imperador da televisão, Geraldo José de Almeida, que Jesus tenha em bom lugar, porque como amigo e radialista ele foi insuperável.

 

O SR. EDI MORELLI: Isso mesmo, pelo saudoso locutor esportivo, Geraldo José de Almeida, que na época trabalhava na Rádio Record. Por que Lumumba? Este era o nome de um rei africano, com qual Paulo se parecia muito, chamado de Patrício Lumumba. (Lê.)

“Em 1961, com vinte e seis anos, Paulo veio para o Sul, receoso e até com um certo medo, pois cada vez se distanciava mais de sua terra e da noiva que permanecia em Pernambuco. A noiva que hoje é sua esposa, a Dona Idalina, amiga de todas as horas, esposa dedicada e maternal.

Mas chegou o Paulo Lumumba no Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e logo se firmou como grande lateral esquerdo. Mais do que um salário, ganhou, também, através do amigo Paulo Ferraz, uma família e uma segunda mãe, a vó Margarida, a quem até hoje Paulo recorre e a quem até hoje ele visita, a quem ama e é madrinha do seu filho do meio, o Jairzinho.

No Grêmio, Paulo Lumumba jogou até 1967, passando depois para auxiliar de treinador e treinador. Mas, no Sul, Lumumba teve uma rápida passagem também pelo Aimoré e pelo São José. Em Porto Alegre, Lumumba morava numa casa na Rua Félix da Cunha e quando se sentiu seguro foi a Pernambuco e casou-se, retornando para Porto Alegre. Quando o seu filho Jairzinho estava para nascer, Lumumba foi obrigado a baixar no Hospital Lazzarotto para operar o menisco, no dia 04 de fevereiro de 1964. Lumumba foi para o hospital preocupado com sua esposa grávida. Naquela mesma noite, mal sabia ele que, enquanto era operado no Lazzarotto, seu filho nascia na Beneficência Portuguesa.

Alguns anos mais tarde, quando foi preciso renovar contrato com o Grêmio, Paulo ainda morava de aluguel e foi a avó Margarida quem sugeriu: ‘Paulo’ - disse ela – ‘pede uma casa para renovar o contrato’. Lumumba pediu uma casa e levou mesmo. E até hoje reside nela, no Bairro Partenon.

Paulo Lumumba, que tanta alegria deu ao tricolor gaúcho, hoje é reconhecido como Cidadão de Porto Alegre, em reconhecimento ao que fez pelo futebol aqui do Sul, em reconhecimento de todos os garotos que se espelharam no ídolo Lumumba e trilharam o caminho da responsabilidade e do esporte. Porque Paulo Lumumba, mais do que um jogador de futebol, sempre procurou ser amigo de seus colegas de profissão e era visto conversando com jogadores de equipes adversárias, dando conselhos de como deve portar-se um atleta. Assim, elegeu-se Vereador desta Cidade pelo extinto MDB com expressiva votação.

Como representante do povo nesta Casa, Lumumba deve lembrar-se de que uma de suas mais importantes participações, já no primeiro ano de mandato, foi quando da Sessão Solene em homenagem àqueles que trabalhavam com crianças excepcionais, mais especialmente a Divisão de Educação Especial e Associações de Pais e Professores da Escola Especial Experimental. Isso prova, Paulo, que na vida tudo se repete, diferenciando-se apenas pelo ângulo pelo qual é visto o tema em questão. Seus filhos - Paulo, Jairzinho e Aline -, os criou com dedicação e muito afeto, tornando assim sua família um belo exemplo de união e de amor. Atualmente, Lumumba se encontra realizando trabalhos numa equipe de Santa Catarina, mas permanece presente conosco.”

Eu vou largar o papel, Paulo, porque eu tinha um outro encerramento, mas esse Paulo Lumumba que hoje é homenageado, vinte e oito anos de Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, por pedir equiparação salarial foi jogado porta afora pelo Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, meu Grêmio, que nós homenageamos há bem pouco tempo nesta Casa. Paulo Lumumba fez, é a informação que tenho, o que todo o cidadão prejudicado faz, recorreu à Justiça. Deus queira, Paulo Lumumba, que você mais uma vez saia vitorioso nessa jornada.

Parabéns, Paulo, pelo título que recebe hoje. Parabéns à sua esposa, à mulher amiga nas horas difíceis, nas horas boas. Parabéns aos filhos presentes na homenagem do pai. Parabéns à vó Margarida, a sua mãe adotiva que você adotou aqui em Porto Alegre. Parabéns. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós registramos a presença dos filhos, o Paulo Roberto de Souza, que está lá, o Jair Otacílio de Souza, que está aqui junto com a Janice Almeida de Souza, e a Dona Margarida, que está sentadinha ali, firme. Prazer em vê-la, Dona Margarida.

Com a palavra, o Ver. Lauro Hagemann, que fala pelas Bancadas do PCB, do PSB e do PT.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Ver. Valdir Fraga, Presidente desta Casa, prezado Prefeito Olívio Dutra, Dona Idalina Lima de Souza, esposa do Homenageado, meu prezado Paulo Otacílio de Souza, Srs. Vereadores, senhoras e senhores, para mim é uma honra muito grande poder falar, nesta Sessão, em nome do meu Partido, o PCB, do PSB e do PT para homenagear uma figura que a Cidade aprendeu a respeitar e a gostar, que hoje recebe muito merecimento o título de Cidadão de Porto Alegre.

Paulo Lumumba veio há muito tempo do longínquo Sergipe e se aquerenciou aqui por Porto Alegre. Não vou falar na sua carreira futebolística, porque esta é bastante conhecida, vou lembrar apenas um episódio que me ocorre de um jogo no velho campo dos Eucaliptos, quando Paulo Lumumba jogava no Aimoré e acabaram ganhando do Colorado. Isto faz não sei quanto tempo, é bem anterior à memória do Valdir.

Mas, Srs. Vereadores, o que eu quero ressaltar nesta figura excepcional que é o Paulo Otacílio de Souza, para nós o Lumumba, é a sua característica humana, mais do que jogador de futebol, profissional, mais do que o professor de educação física que é hoje, mais do que tudo isso, para mim, o mais importante é a figura humana de Paulo Otacílio de Souza. E eu tenho aqui, nesta sala, um registro muito significativo do papel que o Lumumba desempenhou como treinador de futebol, especialmente porque ele não era apenas o técnico, o homem que sabia jogar e sabia ensinar a jogar; ele era o homem que, em fazendo essas coisas, ensinava seus jovens companheiros de atletismo a viver. E eu, numa determinada altura da minha vida, tinha três meninos que foram treinar sob as ordens do Lumumba nos infanto-juvenis do Grêmio, pois morava ao lado do estádio Olímpico. Chegado um determinado instante da carreira desses três meninos, o próprio Paulo aconselhou-os a que, ou se dedicavam ao futebol, prosseguindo na sua carreira, ou fossem tratar de coisa mais séria, que era estudar para o resto da vida. Um deles está sentado ali, hoje é médico. Era infanto-juvenil do Grêmio junto com dois outros irmãos menores. Deixou o futebol em sua fase quase que profissional para se dedicar aos estudos, porque havia uma opção a fazer: ou treinava todos os dias e obedecia a um regime intenso de treinamento e concentração, ou ia estudar e não podia compatibilizar as duas coisas. Sei que o Paulo fez isso com muita gente, não só com o meu filho, e isso revela a sua grandeza, mesmo querendo que alguém se projetasse, porque o futebol no nosso País é uma projeção social. Nós estamos vendo todos os dias jovens que vêm das mais variadas procedências e, geralmente, das camadas mais humildes da população, projetando-se através do futebol. E eu acredito que não seja fácil para um jovem que venha de um ambiente menor, de repente se sentir quase que endeusado, com muito dinheiro na mão, com as coisas que o dinheiro proporciona ao seu alcance, eu acredito que não seja fácil para alguém enfrentar essa situação. O Paulo tinha a exata medida de mostrar a esses jovens como deveriam se comportar perante a vida e lhes ensinava não só a prática do esporte, a mais rigorosa e a mais honesta possível, como lhes ensinava a viver além do esporte.

Por isso, Paulo Lumumba, a cidadania de Porto Alegre, hoje, se sente engrandecida em te receber como membro privilegiado dessa confraria que todos nós compomos. Muitos não são cidadãos de Porto Alegre, aqui nascidos, mas, como tu, todos aprendemos a gostar desta Cidade, a respeitá-la e a fazer tudo o que está ao nosso alcance para engrandecê-la, como tu fizestes e como tenho certeza de que continuará fazendo. Muito obrigado pela tua cidadania, pela tua escolha! (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A palavra com o Ver. João Dib, do PDS.

 

O SR. JOÃO DIB: Exmº Sr. Presidente Valdir Fraga; Exmº Sr. Prefeito da Cidade, Dr. Olívio Dutra; meu querido amigo, companheiro de Casa, Paulo Otacílio de Souza; Dona Idalina, sua esposa, que é tida por ele como namorada; meu caro Secretário Lauro Hagemann; Srs. Vereadores; minhas senhoras, meus senhores, amigos de Paulo Lumumba.

Meu caro Paulo Lumumba, tenho um compromisso com horário, mas fiz questão de estar aqui para saudar em nome do meu Partido, o PDS, esta figura que me impressionou no momento em que chegou a esta Cidade: me impressionou pela sua simplicidade. Ele vinha para jogar futebol no lugar do Juarez e, entrevistado no momento em que chegava no aeroporto sobre como se sentia vindo substituir um ídolo, ele disse: “Eu não vim substituir um ídolo, eu vim jogar futebol”. E isso ele fez como todas as coisas de sua vida, como profissional competente, profissional que soube dignificar esta Casa.

Paulo Lumumba, um homem sensível, espiritualista, comunicativo, que tem liderança. Evidentemente, todas essas virtudes fazem com que se torne mais fácil todos os que se aproximam dele se tornarem seus amigos. E eu tenho orgulho de ter sido Vereador com ele. Aliás, sou o único nesta Casa que foi Vereador em seu primeiro e único mandato, mas aquele pouco tempo que nós convivemos, eu gostaria de continuar convivendo. Eu lembro do Paulo Otacílio de Souza, que ia para a tribuna e desculpava as agressões - Ver. Lauro Hagemann, se ele estivesse conosco, nós não precisaríamos ficar preocupados, porque ele saberia conciliar o ânimo com aquela tranqüilidade que lhe caracteriza e com aquela bondade e com aquele espírito desarmado que ele sempre andou e anda.

Então, esta Cidade sempre aprendeu a respeitar o desportista, o político, mas, sobretudo, respeitar o homem e é por isso que eu não poderia deixar de passar esta oportunidade de também registrar a palavra do meu Partido, o PDS, a alguém que foi meu adversário nesta Casa, mas que sempre procedeu com toda a dignidade e sempre soube respeitar o seu semelhante e que se, eventualmente, foi agredido, e eu lembro uma agressão que lhe foi feita numa das Secretarias do Município, ele veio à tribuna para elogiar o Secretário que havia sido desrespeitoso, mas ele veio dizer que aquele Secretário talvez estivesse muito atarefado, porque não pudera dar ao Vereador a atenção que ele merecia. E aquele espírito desarmado era importante que todos os plenários tivessem.

Eu quero dar o meu abraço, do meu Partido, e quero dizer aos filhos do Paulo Lumumba, se a Cidade hoje reconhece o trabalho do pai, dando-lhe o título de Cidadão de Porto Alegre, vocês têm um exemplo em que se espelhar, vocês têm a responsabilidade de tentarem ser iguais a ele: bons, trabalhadores, respeitosos e dignos.

Portanto, Paulo, receba um abraço muito grande que vou te dar e a homenagem do meu Partido, o PDS. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A palavra com o Ver. Isaac Ainhorn, autor da proposição, que fala pela sua Bancada, o PDT, e pelas Bancadas do PMDB, PFL e PL.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente desta Casa, Ver. Valdir Fraga; prezado Dr. Olívio Dutra, Prefeito da Cidade de Porto Alegre; Dona Idalina; meu querido Paulo Lumumba; meu caro 1º Secretário desta Casa, Ver. Lauro Hagemann; amigos, colegas Vereadores que aqui se fazem presentes neste final de tarde, já início de noite.

Há certas Sessões Solenes que a gente se questiona quais os vínculos que existem entre o proponente, o autor da proposta, e o homenageado, a ligação que cria o vínculo. E esta é uma Casa que hoje vive um dos seus momentos importantes. E será o futebol o vínculo do Ver. Isaac Ainhorn? Eu quero confessar a vocês que eu abandonei o futebol quando meu time perdeu para o Grêmio de 5 x 3, numa tarde chuvosa nos Eucaliptos, lá pelos idos de 1959 - me entristeci, o meu time só perdia. Ali os técnicos não tinham generosidade comigo, sempre me deixavam na reserva nos times infantis. Então, não é o futebol. Mas há um autor intelectual desta proposta que confere a cidadania de Porto Alegre ao Paulo Otacílio de Souza, o nosso Paulo Lumumba, e depois vim compreender e, talvez, alguns momentos atrás é que consegui compreender o vínculo, a ligação minha com Paulo Lumumba.

O autor intelectual está lá, é o João Severiano, que achava que era um resgate que esta Casa deveria fazer ao Paulo Lumumba, e a cidade de Porto Alegre, e nesta tarde nós estamos fazendo. E esta é uma Casa feliz, é uma cidade feliz, é uma cidade que teve um Prefeito que era vendedor de laranjas, é uma cidade que tem hoje como Prefeito um homem oriundo das camadas mais humildes do Estado, filho de agricultores sem terra no interior de Rio Grande, e isso é muito importante. É uma cidade diferente, é uma cidade de vanguarda que teve como anterior Prefeito, também, um homem filho de imigrantes libaneses que hoje é Vereador desta Casa, Ver. João Dib. Tudo isso revela exatamente a diferenciação que tem a singularidade da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, da cidade de Porto Alegre.

E, há poucos momentos, o Paulo Lumumba me dizia lá: “Eu rejeito aqueles que me dizem que sou um negro de alma branca. Eu sou um negro negro e assumo esta condição”. Talvez ali eu entendi o meu vínculo com Paulo Lumumba: é que temos uma identidade de raças sofridas, perseguidas e oprimidas. É um tipo de colocação que com freqüência é feito, o mesmo conteúdo que tem na expressão, Paulo Lumumba, de que você é um negro de alma branca, tem naquela que diz: “Você é um judeu diferente”. Então, aí está a nossa identidade, a nossa profunda identidade de pertencermos a minorias sofridas e perseguidas e despojadas de sua cidadania.

Paulo Lumumba foi despojado de sua cidadania quando os seus ancestrais vieram para o nosso País em navios negreiros. Da mesma forma, os meus ancestrais foram despojados da cidadania que tinham na Alemanha, na Polônia, na Tchecoslováquia, na França e em todos os países que foram dominados pela besta nazista.

Aí está, Paulo Lumumba, a nossa identidade, a nossa profunda ligação. O direito à cidadania é o principal de todos os direitos. Cidadão é aquele que goza o direito de cidade. O termo vem da Antigüidade, quando a cidade era um verdadeiro Estado e para ser membro deste Estado e gozar das prerrogativas inerente à qualidade de cidadão era indispensável preencher certas condições bem determinadas. Na Roma antiga, o direito civil da cidade era exclusivamente aplicado aos cidadãos romanos, os estrangeiros estavam sujeitos às prescrições dos direitos das gentes e a lei civil nem ao menos garantia os atos jurídicos praticado sob o regime dos direitos das gentes. Por isso tudo representava a força da cidadania à época.

Estamos todos, hoje, reunidos aqui para proclamar este direito que tem o Paulo Otacílio de Souza, o Paulo Lumumba, de ser reconhecido como um cidadão porto-alegrense. Por seu trabalho, seu esforço e sua dedicação, ele conquistou a todos nós e fez-se merecedor da homenagem que prestamos aqui na Casa do Povo.

Certamente, meu caro Lumumba, este é o momento que emociona a todos nós. E é bem provável que esteja agora rebuscando em tua memória o ano de 1948, em que o menino Paulo Otacílio de Souza, aos quatorze anos, começava a jogar futebol no Riachuelo, time que tinha o nome de sua cidade natal, no interior de Sergipe. Iniciava-se ali uma longa jornada de trabalho e de dedicação que o traria até a nossa Porto Alegre e nos possibilitaria esta Sessão Solene de hoje.

Já se passou mais de meio século desde então. E, ao longo destes anos todos, o cidadão Paulo Otacílio de Souza, sergipano nascido em 22 de junho de 1934, traçou uma trajetória de êxitos: em Aracajú, na Associação Desportiva Confiança; em Recife, no América Futebol Clube; em São Paulo, no Comercial e no próprio São Paulo; no Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense; no Aimoré de São Leopoldo; no São José, onde encerrou a sua carreira de jogador profissional, em 1971.

Homem humilde e de muita fé, Lumumba chegou até nós em 1960. Afável, meigo, contemporizador, sensível e educado, impôs-se, pelo esforço e trabalho, numa conjuntura social hostil ao pobre e ao negro. Estas suas qualidades, aliás, foram fundamentais, mais do que qualquer presença física, para que ele recebesse o apelido “Lumumba”, ligando-o ao destacado líder africano.

Seria difícil pretender recompor aqui, em todos os seus detalhes, a trajetória esportiva de Paulo Lumumba. Até porque ela nunca se interrompeu. De jogador profissional, tornou-se técnico, atuando inicialmente no São José, passando pelo Força e Luz e, em 1976, dirigindo o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, onde, depois, alternou-se durante vários anos como auxiliar técnico das categorias inferiores do clube. É como técnico, desta vez do Guaicurus F.C., da cidade catarinense de Concórdia, que Paulo Lumumba continua ainda hoje ligado ao futebol que tanto ama. Consciente de aprimorar-se nesse mister, inclui na sua formação profissional a Licenciatura em Educação Física e o Curso de Técnica Esportiva em Voleibol e Durwvol (sic), pela Escola de Educação Física do Instituto Porto Alegre – IPA.

A dedicação sem limite ao esporte e a presença carismática que sempre transmitiu a todos os porto-alegrenses assegurou a Paulo Lumumba uma outra atividade: o voto popular trouxe-o à Câmara Municipal, em 1968. Aqui ele deixou marcada uma atuação exatamente igual àquela de jogador profissional, trabalhando para o grupo, sem preocupar-se em aparecer individualmente e, como se diz na linguagem futebolística, nunca acreditando que uma bola está totalmente perdida.

Sua atividade nesta Casa voltou-se especialmente para o atendimento das reivindicações, dos reclamos populares. Foi um Vereador que esteve sempre ouvindo os problemas dos setores menos favorecidos da Cidade, procurando resolvê-los mediante a permanente cobrança de providências por parte dos órgãos da Prefeitura.

Este um rápido registro de um amplo rol de realizações do homem que hoje aqui homenageamos.

Meu caro Paulo Lumumba, certamente a cidade de Porto Alegre sente-se honrada de registrar hoje nas páginas de sua história esta Sessão Solene, em que leva para a lei uma cidadania que conquistastes no exato momento de tua chegada a esta Cidade. Afinal, nascido sergipano, ao longo destes quase trinta anos em que aqui estás, mostrastes definitivamente que és gaúcho de coração. E conquistastes os porto-alegrenses justamente porque és ainda hoje aquele homem humilde, de grande fé, aquele homem afável, meigo, contemporizador, sensível e educado que aqui chegou para jogar pelo Grêmio e nos cumulou com tantos exemplos.

A nós, honra a oportunidade de concedermos a ti este merecido título de Cidadão de Porto Alegre. E é por isso que a Câmara de Vereadores de Porto Alegre, a Prefeitura Municipal, através de uma lei municipal, o concede a ti, Paulo Lumumba, no teu exemplo, na tua história, como outros títulos já concedeu. Este resgata as pessoas de todos os segmentos sociais. Este, a nossa proposta que, pelo voto secreto, teve a unanimidade dos votos dos Vereadores da Casa na Legislatura passada. Hoje, defere a ti o título de Cidadão de Porto Alegre, conferindo de forma definitiva a cidadania que conquistastes nestes quase trinta anos da cidade de Porto Alegre, para orgulho da tua família, dos teus filhos, de tua mãe adotiva e dos teus amigos que aqui se encontram e que são os milhares que vivem neste Estado e neste País. Nossos cumprimentos, que Deus esteja contigo, Paulo Lumumba. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convido o Ver. Isaac Ainhorn para entregar a Medalha. O Sr. Prefeito Municipal, Olívio Dutra, faz a entrega do Diploma. Convidamos a todos para assistirem de pé.

 

(É efetuada a entrega da Medalha e do Diploma.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o nosso Homenageado.

 

O SR. PAULO LUMUMBA: Sr. Presidente desta Casa, Ver. Valdir Fraga; Dr. Olívio Dutra, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Srs. Vereadores; demais companheiros de outras jornadas; meu irmão, em particular meu amigo, tenho que usar esta expressão meu irmão, meu amigo, porque momentos difíceis passamos juntos e aqui há dois representantes, João Carlos da Silva Severiano e Jorge Carlos Carneiro. Não foram só cinco, seis, sete, oito, nove anos de batalha, lado a lado. Minha inesquecível mãe, querendo ou não querendo, teve que ser adotada. Adoção engraçada esta. Normalmente, é a mãe que pega o garoto atirado à rua; no meu caso, foi o contrário. Eu é que estava atirado à rua e adotei uma mãe da qual eu me orgulho: Margarida Correia Ferraz. Não se desgrudou de minha vida até agora, de agora em diante não desgruda mais, pois, a cada dia que passa, a família cresce, com o meu filho mais velho, Paulo Roberto, com seu afilhado, Jair Otacílio de Souza, e com a minha caçula, Aline. Esta família cresce ao lado da Rita e seus pertences.

Mas, meus amigos, vocês talvez pensem: mas que nordestino! Travou uma batalha com o frio e aqui se acampou. É que o nordestino tem um destino muito forte: a longa distância que percorre para fazer amigos. E esta minha satisfação hoje de tarde, através de sua proposta e com a confirmação dos nossos representantes da Cidade, os Srs. Vereadores, outorgando-me o direito de orgulhar-me cada vez mais, como certa vez disse ao Ver. João Dib, certa vez disse ao Ver. Ábio Hervê, que nesta tribuna, nesta Câmara, que nesta Legislatura eu sou muito mais gaúcho do que vocês.

Vejam que entre os vinte e um Vereadores gaúchos, vinte e um Vereadores da Câmara Municipal existia um estrangeiro, que era eu. E briguei com os vinte dizendo que eu era mais porto-alegrense do que todos os porto-alegrenses, porque vocês eram obrigados a serem porto-alegrenses porque aqui nasceram, e eu era muito mais porto-alegrense porque escolhi de livre e espontânea vontade, ninguém me prendeu aqui, fiquei de livre e espontânea vontade, fiquei porque quis e nunca me arrependi e jamais me arrependerei de fazer a grandeza de representar bem esta Cidade. Se o pouco que fiz não foi a contento daqueles que esperavam mais, coloco-me à disposição para recuperar o terreno perdido e fazer todas as grandes coisas possíveis que venham ao engrandecimento desta Cidade.

Deixem-me lembrar o meu velho pai, pois não tive a felicidade de informá-lo como era o Rio Grande que ele amava ainda no tempo do Dr. Getúlio Vargas, ele nunca esqueceu. E por incrível que pareça, mudam-se partidos, trocam de nomes, trocam de homens, mas a imagem, a lembrança, o que foi feito à época da ditadura do Dr. Getúlio Vargas jamais será esquecido, porque não há um só nordestino, ou não há um só brasileiro que não se recorde do que fez, pelo menos planejou para este povo brasileiro, com especialidade do povo do Nordeste, porque Getúlio Vargas até hoje é lembrado, porque não tem uma só cidade, não tem uma só capital neste País que não tenha pelo menos um busto, uma rua que lhe empregue o nome. Então, meu pai não teve esta felicidade, que eu pudesse informar as coisas do Rio Grande quando visitei o seu túmulo em São Borja.

Meus amigos que hoje vieram me prestar esta homenagem, dando-me um abraço, eu quero em nome da minha família agradecer a todos vocês, porque vejo amigos de batalha do dia-a-dia. Vejo amigos, colegas da dificuldade que sente o professor, porque está reservado também, Professor Ícaro, que também é outro professor de educação física, como o Professor Wilson, Professor Mauro, Professor João Severiano, Professor Felizardo, Professor Newton e tantos outros que aparecem aqui sabem a dificuldade que tem um professor, ainda mais quando este professor traz no sangue, traz no seu corpo, traz na sua vivência o rótulo de uma ipaense, isto orgulha, isto fortalece, isto dignifica o professor com respeito a toda a filosofia da família ipaense. Talvez eu me empolgue falando neste microfone, o qual pelo menos tentei usar da melhor forma possível em benefício desta Cidade, orgulhando-me, como dizia o Dr. Lauro Hagemann, que era fácil narrar os gols de Paulo Lumumba, mas, depois de os gols acabarem, eu fui obrigado a fazer uma outra introspecção, me preparar como professor de educação física, como professor de futebol, como fisioterapeuta, como professor de psicologia de trabalho aplicada ao atleta. Tudo isto foram meios, foram caminhos que me levaram a adquirir uma forma de trabalhar dentro da faixa etária de oito a oitenta anos.

É por isso, Vereador, que o Paulo Lumumba, o Paulo Otacílio de Souza sempre foi um sujeito despreocupado e tenho certeza de que uma das maiores aulas que dei na minha vida foi a este indivíduo que está olhando para mim, não vai esquecer nunca de mim, porque se eu morrer amanhã, ele vai dizer que eu informei para ele, em 1961, que o craque, o astro, o jogador de futebol, que o ídolo não tem camiseta, o ídolo é insubstituível. O profissional que é profissional faz bem, faz melhor, mais aplicado, com mais dedicação, muitas vezes até sem ter o reconhecimento através da moeda. Jorge Carlos Carneiro, quantas vezes te disse conte até dez, que o ídolo não tem camiseta, o ídolo tem a responsabilidade, a função e a missão de fazer bem não interessa a quem. Olhar nos olhos, executar a sua tarefa sem ter preconceitos. Preconceitos, quem é que não tem preconceitos? Eu tenho preconceitos, eu sou contra, eu tenho preconceito porque o dinheiro é preconceituoso comigo, ele não se aproxima de mim. Eu tenho preconceito com ele porque eu corro atrás dele e ele nunca pára pra que eu pegue ele. Mas não há de ser nada, porque o Grande Mestre que não tem preconceitos me dá essa satisfação. Eu tenho o direito de respirar e não sei a cor do ar, eu tenho direito ao sol, eu tenho direito à água, eu tenho direito de ter amigos; porque se o professor, o Ver. Isaac Ainhorn, o Ver. Lauro Hagemann não quiserem ser meus irmãos, eu sou irmão deles. É um direito que eles não podem ter preconceito. Você pode não querer ser meu irmão, mas eu quero ser seu irmão.

Então, satisfeito o meu ego, porque o Pai Maior não teve preconceitos, dividiu tudo em três, para que essas três coisas estivessem justamente dentro dos parâmetros daqueles preconceituosos. Porque não há manhã sem noite, e não há noite sem tarde. Não há corpo sem cabeça e não há cabeça sem tronco e não há tronco sem membros. Então, negros, brancos e amarelos colocados no mesmo copo vão dar o líquido necessário para saciar a sede daquele que a tem.

Já proseei demais. Quero agradecer a presença dos meus amigos. Professor Ícaro Rodrigues, esse sofreu comigo no ano de 1976 as peripécias de uma equipe inimiga, mas levamos avante, tenho certeza que foi cumprida também a sua missão. E recebendo justamente esse reconhecimento desta Cidade, eu só vou pedir a Deus que me dê vida e saúde para eu continuar amando aqueles que me amam, e se porventura eu descobrir aqueles que não me amam, que eu tenha mais amor para eles, porque já vou voltar para o Nordeste, com aquela expressão, me permita dizer, que não sou saudosista, mas eu tenho que respeitar o que foi feito do Pai Maior, violência gera violência, o ódio destrói para sempre e só amor constrói para a eternidade.

Eu vou tomar a liberdade aqui, talvez até o meu doutor fique meio descontente comigo. Por incrível que pareça, o primeiro repórter a me entrevistar em 1961, por incrível que pareça era um garoto, mas continua jovem ainda porque está aqui justamente nesta Casa. Muito obrigado, Dr. Pedro, muito obrigado pela sua presença. A primeira entrevista que foi dada e foi feita em 1971, eu tenho guardada, feita pelo repórter Dr. Pedro Afonso José de Leão. Ah! Que bom seria se eu pudesse transportar o meu coração e o meu pensamento para todo o Rio Grande do Sul e, ali, um cantinho de Brasília, de onde vem um representante todo especial. Muito obrigado. Pode dizer aos irmãozinhos de Brasília que eu recebi a sua visita, que eu recebi os abraços dele com toda a sinceridade. Muito obrigado.

Dona Idalina, perdoe-me de não ter citado o teu nome, porque eu sabia que eu queria fechar para deixar lembrado para sempre. A Dona Idalina na minha vida é como eu na vida de Porto Alegre, dá para a gente traçar um paralelo, porque é muita paciência de uma cidadã esperar doze anos por um negro. Mas ela sabia que este negro estava reservado para ela, doze anos de expectativa. Vinte e seis anos de casados. Vejam, já estou grogue, não é ela que está grogue, quem está grogue sou eu. Minha negra, eu quero aqui de público, se alguma coisa eu consegui, nós conseguimos, você é a responsável por tudo isso, porque um negrinho pobre nordestino chegar aonde chegou no Rio Grande do Sul como jogador de futebol...

Tive a iniciativa de não deixar que meus moleques jogassem, pois eu, como treinador, não poderia acompanhar, porque pareceria panela, não ficava muito transparente. Pelo sofrimento que tive como jogador de futebol, se depender de mim, vocês não jogarão. Hoje, para o meu orgulho, meu filho Jair Otacílio de Souza é formado em Administração de Empresas, com vinte e dois anos; o seu Paulo Roberto, também formado em química e física, e a moça se prepara para amanhã ser alguma coisa, porque hoje não valemos pelo que queremos e sim pelo que somos e podemos fazer no meio de uma sociedade de consumo, porque quem não se qualificar, seja preto, branco ou amarelo, a tendência é ficar no meio do caminho.

Então, digo isso com a experiência de um jovem de dezoito anos que eu vejo ali, um irmão, Jaime Schimidt, sofredor igual a mim, um homem dedicado ao trabalho na formação de jovens de valor, que muitas vezes não têm o seu reconhecimento próprio.

Então, aqui, em meu nome, em nome da minha família, de meus amigos, quero agradecer aos oradores que me antecederam, ao Sr. Prefeito, ao Sr. Presidente desta Casa e aos demais componentes desta Casa que me deram o direito de ser cidadão porto-alegrense por unanimidade. Sei que vou ficar devendo, mas é bom que a gente tenha um débito com uma cidade como Porto Alegre e com uma Câmara como esta, pela sua capacidade. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Neste momento, nós vamos encerrando os trabalhos desta Sessão Solene.

Se havia alguma angústia no dia, ela se foi, só de ouvir as palavras desse querido Paulo, eu tenho certeza de que aconteceu o mesmo com os que estão aqui em volta. Meu corpo estava cansado de alguns problemas do dia-a-dia e o cansaço sumiu. Muito obrigado por ter vindo e permaneça conosco sempre, com a Dona Idalina. Que seus filhos continuem dando o bom exemplo e a alegria que o pai deu a esta Cidade, a todos nós porto-alegrenses.

Agradecemos a presença do nosso também querido amigo Prefeito Olívio Dutra e dos demais companheiros e, realmente emocionados, encerramos a presente Sessão.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h46min.)

 

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